
No dia 22 de Março de 2023 teve início o 3º Ciclo de Webconferências, com o tema “Arte na Infância e Documentação Pedagógica” , promovido pela APEI, onde tive o privilégio de me inscrever, juntamente com mais de 500 participantes e oradores, online e fisicamente, num ambiente rico em aprendizagens.
Há já bastante tempo que não se dinamizam encontros como este, ainda mais com a possibilidade de presencial que, apesar de tudo, ainda é algo que nos faz bastante falta. E pudermos estar juntos com vozes da Educação, e colegas de profissão, a partilhar conteúdos e práticas pedagógicas é fundamental para o nosso crescimento pessoal.
Foi-me possível pensar, refletir e dialogar abertamente sobre as práticas pedagógicas atuais e idílicas, procedimentos burocráticos e atitudes éticas que todos temos (ou se fazem falta) perante a profissão, o meio que nos rodeia, os colegas e as crianças.
As palavras de João Formosinho, da Associação Criança, fizeram-me realmente analisar os processos documentais que realizamos diariamente no contexto educacional, e quais as suas verdadeiras intenções: escutar melhor as crianças!
Algo que parece tão simples na teoria, mas é cada vez mais negligenciado na prática. Seja por falta de tempo ou organização.
O Professor reformula a forma como vemos legislativamente até hoje a documentação, e leva-nos a repensar as questões que devemos fazer a nós mesmos em tudo o que transpomos. Bem como a premissa com a qual sempre me relacionei em sala: como dar resposta ao que nos é exigido pelas tutelas, de forma realista e atualizada, tendo em conta, efetivamente, os interesses e opiniões das crianças?
A documentação pedagógica, como diz o autor do livro publicado pela APEI “Compreender a documentação pedagógica na educação de infância”, apresenta-se como um desafio à formação, na medida em que devemos compreender a “renovada imagem” do papel do educador, das crianças e dos espaços, nos processos de aprendizagem, métodos e meios educativos.
E isso… faz tanto sentido no nosso papel de educadores como respirar é importante para a vida!
Os tempos evoluem, as crianças mudam… se as nossas práticas não se ajustarem às realidades presentes, e a documentação não for flexível a esse nível, como podemos defender uma educação de qualidade…?
A Professora Júlia Formosinho fez um discurso brilhante sobre a “criança como autora e atriz no mundo a que se abriu”, nas relações que com elas estabelecemos e focou-se em como devemos ouvi-las acima de tudo!
É fantástico ver como dois professores juntos podem fazer tanta diferença no mundo da pedagogia, com técnicas e práticas atualizadas, saberes pertinentes e atuais, mas mais que tudo, estarem abertos à mudança que implica a Educação.
Ela faz-nos referência aos estágios de desenvolvimento de Piaget que aprendemos no curso e nos quais a documentação se baseia, mas reforça que a prática deve ser focada nas características individuais de cada criança, naquilo que ela nos comunica diariamente e no presente, e não em etapas pré definidas.
Aproveitou ainda para nos esclarecer a diferença entre documentação e avaliação de uma forma simples: “A documentação é pedagogia, é aprendizagem. A avaliação é uma compreensão do caminho da pedagogia na aprendizagem, através da documentação.”
Vincando que “na ação eu tenho de aprender a ler o que a criança está a ser naquele momento.”
Resumo este momento com as suas próprias palavras:
“A Ética é o coração da pedagogia de qualidade”
O Dr. Luís da APEI apresentou Mónica Oliveira da Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, como a oradora mais requisitada.
Não foi difícil perceber porquê.
Como ativa defensora da Educação pela Arte e da Arte na Educação que sou, não poderia ver este momento como nada mais que enriquecedor e perfeito.
Ela mostra-nos a arte como o caminho da educação para uma temática emergente de pensamento prospectivo, “para que o futuro seja o resultado de uma escolha e não uma consequência da mesma…”; consolidado no seu livro “Tempos (Re)Ligados pela Arte”.
Livro: https://apei.pt/produto/linha-editorial/livros/tempos-religados-pela-arte-brevemente
A arte é um recurso educativo que fomenta a criatividade da criança, o pensamento crítico, a sua própria leitura do mundo de forma a “ativar itinerários para atuar na sociedade em que vivemos”
De uma forma rápida explicou-nos que temos de interligar a arte com a vida, tornando as crianças autoras da sua criatividade e leitura/ interpretação das aprendizagens, e os próprios educadores serem autores criativos das suas aulas.
Mas tal só será possível se nos libertarmos de “pré-conceitos”, se abolirmos modelos e fórmulas da educação, com o objetivo de implementar formas de “(re)construir linguagens, pensamentos e saberes capazes de nos comprometerem com, e no mundo”.
A sua proposta foi levar-nos a pensar como o caminho da arte surge na educação, desafiando as crianças a experimentar e testar limites de interpretação, expondo sentimentos e pensamentos através de várias abordagens, que alimentem e nutram relações e a própria apresentação do “eu”.
Porque as crianças serão capazes de compreender e observar o mundo, fomentando estratégias pedagógicas diversificadas mas, mais que tudo, são capazes de criar e partilhar esse mundo e visão…
Foi, para mim, o momento alto desta sessão.
Educar e ensinar são técnicas artísticas… aprender é uma arte.
Por último, mas altamente inspiradoras, a Sílvia Berèny e Rita Brandão da OSMOPE do Porto, apresentaram o seu projeto “Olhorelho: quando a arte cinematográfica desafia as crianças na produção de novos discursos”.
O IndieJúnior Porto propôs a um grupo de crianças dos 3 aos 10 anos, que visualizassem dois filmes mudos para que posteriormente lhes “dessem voz”… Este projeto incentivou a escuta ativa da opinião, crítica e reflexão das crianças em todo o lado (horta, luzes, sala, cozinha…) e de várias formas.
Houve ainda a intervenção passiva de um artesão, arquiteto, entre outros profissionais, que os ajudaram a dar forma às suas ideias. Trabalhando aprendizagens de movimento, estética, lógica, aerodinâmica, equilíbrio, organização espacial, distâncias… e muito mais.
Assim, as crianças deram uma interpretação, e visão, aos filmes, de forma a, com o som, atribuírem significado ao que viram.
Daí a origem do título “Olhorelho: Quando os olhos também ouvem”.
Achei simplesmente fantástico, uma vez que reúne a arte anteriormente falada, com a abertura e espaço da criança para aprender pela prática, incentivando a criatividade e espírito crítico. A autonomia e a resiliência são fundamentais desde tenra idade, a capacidade de solucionar problemas sozinhos também. Pelo que todo o trabalho desenvolvido foi extremamente bem orientado e coordenado, culminando numa exposição merecedora.
(fotos retiradas do Facebook da OSMOPE)
Reforçando algo em que acredito e defendo muito pedagogicamente, adorei a experiência de ouvir todas estas pessoas num momento único, sobre o poder da Arte na Infância e de como, nas palavras de Picasso, permanecer artista depois de crescer numa profissão chamada Educador.
Termino esta reflexão com um apelo feito pela Silvia, mas que fala por todos:
“Não infantilizem as crianças. É relevante que dignifiquem o trabalho delas, e que haja uma aprendizagem dos adultos deste tipo de transumâncias que se passam na infância, pois se perdurarem durante a idade adulta levarão a uma sociedade melhor, mais inclusiva e cultivada …”

Patrícia Nogueira
Educadora de Infância e Sales Manager
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