
São vários os modelos pedagógicos implementados em creches e jardins-de-infância de todo o mundo. O High Scope, Movimento da Escola Moderna, Reggio Emilia e Metologia de Trabalho Projeto talvez sejam os mais falados em Portugal. Mas e nos outros países? Que outros modelos se implementam?
Na Irlanda, onde trabalhei como educadora e coordenadora pedagógica, o Modelo Montessori é o mais reconhecido e implementado nos infantários sendo o Reggio Emilia e o High Scope quase desconhecidos pelos educadores.
Neste artigo adaptado da Loca Academia Familiar sumariam-se as características principais de alguns modelos/métodos pedagógicos: Montessori, Waldorf, Reggio Emilia, Pikler e Aucouturier.
Método Montessori

No método Montessori, a criança é o centro do universo (educativo). Os educadores são como guias que acompanham o aluno na sua “carreira educativa”. Estes guias elaboram propostas educacionais e depositam-nas ordenadamente em bandejas ou cestas, durante a aula. Cada criança é livre para escolher a bandeja que quer, levá-la para o seu canto e trabalhar na sua própria proposta. Uma proposta para as crianças de em idade pré-escolar pode ser, por exemplo, colocar e tirar bolas pequenas de uma garrafa (aprender assim a contar, desenvolver habilidades motoras, etc.). Numa outra bandeja estarão, por exemplo, fichas de nomes de meios de transporte para unir com as respectivas imagens. As aulas Montessori são a típica imagem minimalista, limpa e ordenada.
Montessori é um método orientado a dar respostas mais científicas ou matemáticas, visto que todas as propostas realizadas são baseadas em feitos da realidade e da natureza. Os livros que se encontram nas salas de aula Montessori não são só de contos, encontrará também imensos livros sobre conhecimentos (pássaros, florestas, animais, etc.).
Os cursos Montessori são divididos por etapas de três anos. Por exemplo, há aulas para grupos de crianças de 3-6 anos, de 6-9 anos e de 9-12 anos. As crianças mais velhas costumam ajudar as mais pequenas e as pequenas copiam\imitam as maiores. Cada aluno, escolhendo as propostas que mais lhe motivam, vão desenvolvendo as suas competências e implementar o currículo ao seu ritmo. É um modelo pedagógico que tem como objetivo o aluno estar motivado para desenvolver conhecimento em que ele tenha mais interesse, e que vá desenvolvendo sentido crítico para fazer perguntas e procurar soluções\respostas tangíveis e comprovadas. Ao educador cabe-lhe o papel de orientador que se encarrega ajudar cada criança, mas nunca julgar ou classificar o que esta faz.
Aparentemente, os alunos Montessori costumam trabalhar bem como líderes, já que desenvolveram muita autonomia e capacidade crítica. Desde muito pequenos (etapa pré-escolar) aprendem a ter autonomia: aprendem a descascar as frutas, a lavar as suas roupas se ficarem sujas, a abotoar botões e fechar fechos, etc.
Não verá crianças a correr nas nas salas de aula, mas sim sentados no chão confortavelmente numa almofada, concentrados a fazer uma das atividades educativas propostas.
Alguns defendem que o Montessori é um método muito individualista e pouco colaborativo. Para mim, o maior “defeito” que assinalo é que se trabalha a área científica em demasia em detrimento das áreas da imaginação, atividades simbólicas, expressão e artes.
Método Waldorf

O método Waldorf é um pouco diferente do Montessoriano. Este baseia-se mais na brincadeira. Aprender a brincar, desenvolvendo a imaginação. As brincadeiras livres e simbólicas são o centro da educação das crianças, sobretudo até os 7 anos de idade.
Nos colégios que implementam o método Waldorf encontrará salas cheia de cores, hortas que as crianças cuidam e ambientes muito parecidos com o que temos em casa (com cozinha, sofás…).
Os alunos Walford trabalham a empatia, a criatividade ou a vitalidade. Diferente do Montessori, não aprendem a ler ou escrever até os 7 anos; ao invés dedicam-se às artes, ao movimento e à música. Além disso, trabalham mais em grupo, uma vez que os “projetos” que trabalham são escolhidos livremente, dependendo do interesse de todo o grupo.
Apesar de estarem inseridos em grupos, cada criança aprende apenas quando está preparada, ao seu ritmo. A educadora encarrega-se de observar todas as crianças e identificar os interesses e necessidades de cada um, para promover atividades/estratégias de que necessitam no momento mais oportuno.
No método Waldorf estão proibidos todos os ecrãs, computadores, televisões… é inclusive recomendado também seguir esta regra em casa.
Para resumir, se Montessori é mais científica, Waldorf é mais criativa. Por exemplo, para a pergunta “o que é a chuva?” talvez uma sala Montessoriana criaria algo para simular as nuvens e fazer com que chova, já um sala Waldorf começaria um projeto a explicar uma história ou a desenhá-la.
Reggio Emilia

As escolas que implementam a filosofia de Reggio Emilia estão focadas em projetos, na metodologia de trabalho de projeto (MTP). Algo que começa agora a ser implementado em escolas primárias e secundárias vem desta MTP. As salas de aula e as rotinas desenvolvem-se em função do que interessa\motiva as crianças. Quando uma criança pergunta algo, o educador, ao invés de dar a resposta correta, motiva as crianças a investigar e encontrar a resposta iniciando-se assim um projeto com uma ou mais crianças.
Os educadores, além de documentar a evolução de cada criança em papel, também gravam vídeos e tiram fotografias que demonstrem as aprendizagens de cada criança. Esta documentação pedagógica que retrata evidências de aprendizagens da criança podem ser organizadas intencionalmente num portfólio.
Reggio Emilia promove o desenvolvimento de competências sociais, cooperativas e colaborativas, e habitua as crianças desde cedo a trabalhar em grupo. É muitas vezes em grupo que a criança encontra soluções, resolve conflitos e desenvolve capacidades de análise e síntese.
A escola é considerada um organismo vivo, um lugar que tanto as crianças como os educadores aprendem uns com os outros, colaboram nas tomadas de decisão e onde o conhecimento se adquire pela experimentação.
O espaço da sala de aula e da própria instituição ocupa também um lugar primordial nesta filosofia, pois atua como um terceiro educador, já que se entende que o simples uso do espaço promove relações, comunicações e encontros. Por isso, nos colégios Reggio Emilia – assim como nos Montessorianos – cuida-se muito dos espaço, que estão sempre repletos de exemplares de trabalhos feitos pelas crianças, fotografias, etc.
Outro aspeto muito importante sobre a filosofia Reggio Emilia é a de que a criança possui múltiplas linguagens e deve usar todas no seu processo de aprendizagem. No bem conhecido livro “As Cem Linguagens da Criança”, Malaguzzi explica muito bem este conceito bem como de que forma a arte é utilizada como principal veículo de formação do conhecimento.
Método Pikler

Assim como no Montessori, o método Pikleriano ou Loczy, procura a autonomia da criança; mas baseia-se sobretudo no movimento para conseguir esta autonomia e desenvolvimento.
É um método muito usado na etapa em que os bebés ainda não andam. As salas de aula Pikler estão cheias de gavetas, pequenas escadas, plataformas… móveis pequenos e objetos que permitam aos bebés movimentarem-se sozinhos e desenvolvam as sua habilidades motoras livremente e de forma segura.
É muito importante que a criança esteja alguma parte do tempo deitada no chão, olhando para cima. As redes e almofadas são proibidas, para estimular o movimento livre dos miúdos. Pikler estava convencida de que o desenvolvimento motor é espontâneo; e assegurava que, se são proporcionadas certas condições, as crianças chegam por si mesmas ao desenvolvimento motor adequado. O adulto não “ensina” movimentos, nem ajuda a realizá-los, e as crianças movem-se e desenvolvem-se regidos pela sua própria iniciativa.
O educador observa e estimula o aluno a progredir, mas sempre com a paciência, calma e respeitando ritmo de cada aluno. Não intervém nos movimentos do bebé a fim de deixar que seja ele, em seu ritmo, quem dá o passo.
A criança investiga e experimenta por si mesmo. O objetivo é que as crianças sejam livres, ativas e tenham uma atitude positiva e autônoma em relação às suas conquistas e fracassos.
Método Aucouturier

Termino com o método menos conhecido dos cinco. O método Aucounturier (francês) que promove o movimento, a psicomotricidade, na etapa infantil, como base para que a criança se expresse e aprenda com atividades.
São as famosas áreas de habilidades psicomotoras que incorporam a maioria (ou todas?) aos infantários, onde há esteiras, arcos, grades, blocos de espuma, rampas… objetos rígidos e objetos macios misturados num ambiente seguro (segurança em primeiro lugar) onde a criança é livre para brincar como quiser. E, brincando, experimenta e aprende.
Esta metodologia pretende que a criança experimente através do movimento, perceba o seu próprio corpo e construa identidade própria, facilitando o estímulo dos processos que se abrem à comunicação, à expressão, à simbolização e à descentralização, fatores necessários para o pensamento operacional.
Muitos colégios Reggio Emilia, Montessori ou Waldorf incluem espaços Aucouturier para a promoção do desenvolvimento de habilidades psicomotoras.
Conclusões
Em suma, todos os modelos pedagógicos apresentados referem a criança como centro da educação e como ser ativo na construção da sua própria aprendizagem. Ao educador cabe a responsabilidade de observar os interesses e necessidades de cada criança e preparar espaços, rotinas e apoiar projetos que respondam em conformidade com essas mesmas observações.
Independentemente do modelo pedagógico que implementamos, a plataforma que desenvolvi em contexto de sala tem vindo a ajudar centenas de educadores neste processo de recolha e registo de informação e observações que retratem as aprendizagens de cada criança e do grupo.
Através da elaboração de portfólios digitais contextualizados, a ChildDiary, fornece-nos ainda, a nós profissionais de educação, ferramentas únicas que sustentam e facilitam a planificação e avaliação individual e de grupo.
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