
A 20 de Outubro celebra-se o Dia Mundial de Combate ao Bullying e trata-se acima de tudo de um alerta para um problema vivido por cada vez mais crianças e jovens.
De facto, segundo o relatório disponibilizado pela Unicef no passado mês de Setembro, metade dos alunos entre os 13 e os 15 anos de idade sofre bullying na escola.
Apesar de ser na adolescência que se regista uma maior incidência de casos de bullying, o número de crianças em idade pré-escolar que revelam comportamentos agressivos tem aumentado. Esta é uma preocupação que leva cada vez mais pais e educadores a procurar ajuda e estratégias para prevenir a agressão em idades tão precoces.
Neste artigo vou explicar um pouco o que é o bullying e de que forma uma simples atividade com duas maçãs pode sensibilizar um grupo de crianças numa sala de pré-escolar para o bullying.
O que é o bullying?
O bullying, em português muitas vezes denominado por intimidação infantil, é segundo a Organização Mundial de Saúde:
“uma forma de maus-tratos que ocorre nas escolas. Caracteriza-se pela exposição repetida de uma pessoa a agressões físicas e/ou emocionais, incluindo provocações, insultos, ameaças, assédio, insultos e exclusão social.’ (Bulletin of the World Health Organization 2010;88:403-403).
Alguns exemplos de bullying são a agressão física contra uma criança ou os seus pertences, insultos verbais, impedir que os pares brinquem com a vítima, espalhar rumores entre a comunidade ou ainda utilizar a internet como meio de manipulação de imagem (ciberbullying).
O cenário mais frequente para este tipo de agressões é a escola, contudo é de este pode ainda ocorrer em qualquer contexto em que as crianças estejam presentes como por exemplo: turmas de natação, equipas de futebol, catequese, etc.
A diferença entre o bullying e a típica discussão de crianças
O cérebro de uma criança a partir dos 3 anos tem capacidade de compreender o ponto de vista do outro sendo por isso a idade em que a agressão premeditada e intencional pode começar.
Enquanto educadores, assistimos a discussões entre crianças todos os dias e estas são por nós, muitas vezes, consideradas como normais e típicas da idade.
Na verdade, ser capaz de resolver conflitos, de negociar, de ceder em prol do outro ou do bem comum, de desculpar ou de se comprometer são aprendizagens a promover com um grupo de crianças em idade pré-escolar. Mas onde se desenha a linha que separa a discussão típica da crianças e o bullying?
O bullying, ao contrário da discussão ocasional que acontece ao longo das rotinas diárias num jardim-de-infância entre pares, requer um comportamento agressivo intencional com tendência a repetir-se ao longo do tempo com as mesmas vítimas.

O que causa o bullying?
Segundo as investigadoras Susana Carvalhosa e Margarida Gaspar de Matos as causas do bullying:
“ São variadas. São frequentes situações em que o agressor transporta para a escola a agressividade que vivência em casa, quer como espetador quer como vítima. Neste caso, estas experiências transmitem ao agressor a noção de que a violência e as ameaças são meios aceitáveis para obter o que querem. Por outro lado, também não são raros os casos em que a motivação para o ato assenta no sentimento do agressor de que a vítima possui algo que ele não tem, tal como sucesso escolar ou bens materiais.”
O que podem os educadores e pais fazer?
Livros como “Tenho Medo de ir à Escola” da psicóloga Tânia Paias ajuda pais e profissionais a identificar sinais problemáticos e perceber se uma criança é vítima ou agressora.
Para além de identificar sinais precocemente, é ainda importante que escola e família sejam capazes de estabelecer relações positivas e próximas o suficiente para que a partilha de episódios observados e de sinais alerta verificados sejam de imediato partilhados.
No sentido de sensibilizar as crianças para esta questão, os educadores podem ainda abordar e explorar as emoções e promover jogos em que as crianças sejam estimuladas a lidar com as suas próprias emoções e com as que causam nos outros (como consequência dos seus atos).
Como as maçãs podem sensibilizar as crianças para o bullying?

Uma excelente maneira de abordar este tema e sensibilizar as crianças de forma surpreendente é com esta atividade que requer apenas duas maçãs.
Como fazer:
De manhã, antes de iniciar o seu horário letivo, escolha duas maçãs idênticas por fora. Bata com uma delas numa mesa de forma a não danificar o seu aspecto exterior.
Mais tarde, aquando do momento de grande grupo no tapete, mostre as duas maçãs ao seu grupo de crianças. Falem um pouco sobre as maçãs, como se parecem iguais, as cores, cheiros e texturas.
Depois comece a elogiar a maçã (intacta) e incentive as crianças a elogiar a maçã também. Diga que é linda, cheira tão bem, cheia de nutrientes bons para nós…
À outra maçã (a que sofreu alguns toques de manhã) verbalize alguns insultos e faça algumas caretas. Motive as crianças a copiar esses insultos verbais e não-verbais “Cheiras mal, não és minha amiga, és feia…”.
Terminado este momento de conversa com as maçãs, abra-as ao meio e observem, em conjunto, como a maçã elogiada está intacta por dentro e a que insultaram está magoada.
Depois disto é só deixar fluir a conversa que, de certo, vai ser muito rica em emoções!