Educação de infância no masculino - Educador Bruno Leite

Carta Aberta ao Sr. Henrique Raposo,

O meu nome é Bruno Miguel de Oliveira Leite, sou natural de Lisboa – Portugal. Tenho 38 anos, sou casado e tenho como profissão Educador de Infância.

Escrevo-lhe esta carta pois não consegui ficar indiferente ao seu último artigo, bacoco, de opinião “Porque é que não há Educadores de infância masculinos?” onde defende que os homens jamais deveriam ser Educadores de infância, pois são possíveis predadores pedófilos!

Quero-lhe dizer que os dados em que se baseia no seu, bacoco, artigo de opinião, em nada são demonstrativos da ideia que defende. A generalização quase sempre peca por ser uma linha de pensamento redutora, pouco rigorosa e nada científica, se não vejamos estes dois exemplos que passo a aclarar:

O senso comum diz-nos que na maioria dos lares pelo mundo, são as mulheres quem mais cozinha. Vai-se lá entender porque são homens os mais galardoados com estrelas Michelin?

Parece ser um dado adquirido que é também às mulheres, desde sempre, atribuídas as tarefas de costura. Uma vez mais, como podemos nós explicar os imensos casos de grandes estilistas… homens?

Não posso dizer que tenha ficado particularmente surpreendido com tudo o que li no seu, bacoco, artigo de opinião. Sei em que país vivo e o quanto ainda se encontram enraizadas ideias e estereótipos retardados. É provavelmente o preço a pagar por uma democracia, que tendemos a esquecer, ainda jovem. Mas confesso que não esperava que tais ideias que explana no seu, bacoco, artigo de opinião, viessem de alguém com formação académica e que tem apenas 36 anos!

Nos vários anos em que tenho o privilégio de exercer a minha profissão, para a qual me qualifiquei academicamente na Escola Superior de Educação de Lisboa, felizmente nunca senti, em momento algum, nenhuma discriminação pelo facto de ser homem numa profissão que é, maioritariamente, exercida pelas mulheres.

Nunca alguma família das inúmeras crianças, que ao longo destes anos, ajudei a educar e a formar, me fez sentir um predador ou demonstrou qualquer tipo de receio em deixar a meu encargo o seu bem mais precioso. Felizmente sempre fui tido como uma mais-valia, quer pelas famílias, quer pelas equipas pedagógicas com quem já tive a oportunidade de trabalhar e essa mais valia não assenta no pressuposto de ser homem, mas sim de ser um profissional competente e capaz, que sim, nasceu homem!

Ao ler o seu, bacoco, artigo de opinião lembrei-me de vários Homens que se tivessem a oportunidade de também o ler, dariam voltas no túmulo… que pensaria Paulo Freire, João de Deus ou João dos Santos? Se tiver dúvidas sobre quem são estes Homens pode sempre perguntar no colégio das suas filhas.

Como sou um otimista, tal como Immanuel Kant, acredito que “O sábio pode mudar de opinião. O ignorante nunca.” Assim sendo, deixo-lhe o convite para no próximo dia 23 de Setembro assistir ao I Encontro A PAR – Diferentes Olhares em Educação de Infância, que terá lugar na Escola Superior de Educação de Lisboa.

Neste encontro, onde tenho o privilégio de ser um dos oradores, com o tema “Educar no Masculino – Visão da educação e da relação família-escola por um Educador de infância” serão também abordados outros temas que talvez o elevem a sábio!

P.S – Como pode um jornal de referência como o Expresso permitir-se ser um veiculo de crónicas que promovem a discriminação sexual e nos remontam para os nossos tempos mais sombrios, onde os nossos desígnios eram traçados à nascença consoante o nosso sexo ou condição social?

Atenciosamente,

Bruno Leite (um orgulhoso Educador de Infância).