Em anos letivos anteriores, tinha tido algum contacto com avós e outros idosos. Algumas atividades na minha sala com as famílias, outras atividades com o Centro de Dia vizinho. Mas naquele ano em especial, tinha várias crianças pequenas do grupo (sala de 1 ano – Creche) que ao final do dia tinham os avós para cuidar deles. 

Mais do que desafiar as famílias a envolverem-se de forma participativa na aprendizagem das crianças, tinha a oportunidade perfeita para envolver um grupo diferente mas não menos importante neste processo, os avós.

Permitam-me que exponha as muitas razões pelas quais considerei a importância de ter os avós na sala:

  • Os avós são uma força poderosa como rede de apoio das famílias
  • São eles que carregam e passam os hábitos e costumes da família e da cultura
  • Não são os pais. Não têm qualquer pressão ou obrigatoriedade na educação dos netos
  • Têm muito amor e paciência para partilhar

E por último…

  • TÊM TEMPO! 

Os avós podem servir como uma presença constante e fiável para as crianças que necessitam de modelos adultos presentes, quando os pais não têm essa disponibilidade. A ligação entre gerações proporciona às crianças e aos avós uma oportunidade de aprender, partilhar aprendizagens e saberes e criar laços. 

O que nos diz alguma literatura sobre alguns dos benefícios da aprendizagem intergeracional:

Benefícios para as crianças e jovens:

  • A “escola da vida” (tradições, cultura, saberes e vivências) partilhada para os mais novos contribui para estes terem uma perceção de maior valorização do papel dos idosos e de compreensão do processo de envelhecimento;
  • A transmissão de conhecimentos práticos em diversas áreas (ex. Agricultura), potencia o aumento da capacidade de relação de conceitos e de adaptação das crianças e jovens a diferentes contextos da vida pessoal e profissional;

Benefícios para os idosos:

  • Os seniores recordam e vivenciam uma “nova infância” pela oportunidade de usufruírem de mais tempo e com melhor qualidade na interação com os mais novos, situação, porventura, não desfrutada de igual forma no passado com os seus filhos;
  • Ao estarem ativos, os idosos evitam a solidão, melhoram a saúde e a satisfação com a vida, suscitando um sentimento de utilidade e de realização pessoal no seu papel de suporte aos mais novos.

Benefícios para a comunidade:

  • Desenvolvimento do sentimento de comunidade, através de uma maior colaboração voluntária de pessoas e envolvimento de organizações na resolução de assuntos comunitários;
  • Construção de redes sociais e fortalecimento de laços de solidariedade;
  • Diminuição dos estereótipos e de clivagens de conhecimentos, da história e da cultura entre gerações.

Bruno Rebelo, em “Os benefícios da aprendizagem intergeracional”. Retirado de https://epale.ec.europa.eu/pt/content/os-beneficios-da-aprendizagem-intergeracional no dia 11/07/23

Estas foram algumas das iniciativas que organizei ao longo de dois anos letivos para construir uma relação próxima com os avós e proporcionar a sua participação ativa nas experiências daquele grupo de crianças:

  • Após o período de adaptação, a vinda dos avós à sala. Simplesmente para conhecerem o contexto em que a criança está inserida, conhecer as outras crianças, os adultos da sala, as rotinas…
  • Reunião de avós – Poderia ter sido semelhante à reunião de pais mas defini um tema para provocar a partilha e começar a construir o sentimento de grupo e pertença entre os avós – Quando eu era criança… (jogos, histórias, brinquedos e comidas da minha infância)
  • Organizar nova vinda à sala para que os avós pudessem partilhar uma vivência da sua infância com o grupo de crianças. Definimos em conjunto o que cada um iria trazer ou fazer (jogos, histórias, brinquedos, receitas)
  • Registar, documentar, devolver – Construí uma documentação pedagógica só para os avós. Partilhava na parede do corredor para que todos pudessem ter acesso – pais, crianças, avós, outros membros da comunidade da nossa escola.
  • Criámos um grupo de avós que no ano seguinte, em conjunto com a equipa de auxiliares, organizaram as celebrações do natal, dia do pai e dia da mãe. Ou teriam organizado esta última celebração, não fosse o Covid ter chegado à nossa porta.

Que alterações vi nas crianças. O teu avô é o meu avô! A ternura e disponibilidade que este grupo de pessoas demonstrou em sala só fez crescer o sentido de pertença das crianças à sala, ao grupo, à escola. 

Percebi, ao longo do tempo, que com as vindas constantes à sala, os avós estavam cada vez mais confortáveis no espaço e nas relações com os profissionais. 

Os pais adoraram ver a dinâmica que se criou com a participação dos avós e manifestaram o seu agrado em perceber que a sua criança estava a ser acompanhada por alguém de referência, pois nem sempre os pais tinham possibilidade de se dirigir à escola.

Por estes motivos e mais alguns, são pessoas que muitas vezes têm um papel ativo na vida das crianças e merecem a nossa consideração.

26 de julho – Dia dos Avós!

Alguns projetos e ideias que vos podem inspirar:

Projeto TOY: http://www.toyproject.net/wp-content/uploads/2016/01/portugal_fixed.pdf 

Guia de Ideias para Planear e Implementar projetos Intergeracionais: https://www.associacaoamigosdagrandeidade.com/wp-content/uploads/filebase/guias-manuais/MATES%20Guia%20de%20ideias%20para%20planear%20e%20implementar%20projectos%20intergeracionais.pdf


Ariana Oliveira
Educadora e Especialista de Apoio Ao Cliente

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